Estamos passando por um momento delicado no mundo todo. Tenho visto muitas pessoas falando muitas coisas, algumas que concordo e outras que discordo.
Tenho acompanhado o futebol, pois dentre os esportes mundiais é o que mais gosto e por ser brasileiro, acompanho mais o nosso futebol. E infelizmente o que tenho visto não é muito animador. Vejo alguns clubes mais preocupados em exercer o seu poder do que contribuir para o crescimento do futebol brasileiro.
A partir desse ano o Flamengo tem mostrado que tem maior interesse em mostrar aos outros clubes a força que tem do que contribuir para elevar o nível do futebol brasileiro. Nos últimos anos fez coisas que acho muito bacanas e que deveria servir de inspiração para outros clubes, porém, este ano, na minha opinião, tem cometido equívocos.
O Flamengo passou um período de aproximadamente 5 anos, “arrumando a casa”, brigava pra não cair, quase caiu pra segunda divisão do campeonato brasileiro, não fazia grandes contratações, não contratava grandes técnicos, não disputava títulos e nem sonhava com uma vaga na libertadores. Estava nesse período arrumando a casa, pagou dívidas, reduziu dívidas, aumentou receitas e enfim conseguiu conquistar a maioria dos títulos que disputou no ano passado. No início desse ano, com tudo que arrecadou e tudo que conquistou pode negociar de maneira mais vantajosa seus contratos de televisão e patrocínio. E foi além, buscou também mudar a maneira como se negocia as transmissões de jogos. Como disse no início, acho bacana essa iniciativa e torço para que as coisas mudem para melhor. Mas infelizmente tenho a sensação de que não é em prol do todo, de todos e sim de si mesmo. De nada vai adiantar o Flamengo se tornar tão grande que perca-se competitividade e o campeonato não tenha mais graça. Ou se futuramente ele se sinta tão superior aos outros que esnobe a possibilidade de jogar contra algum time ou mesmo participar de um determinado campeonato.
Essa pandemia veio para atrapalhar ainda mais tudo que já era confuso. E mais uma vez o Flamengo “liderou” a confusão. Primeiro querendo que o futebol voltasse a qualquer custo no momento mais delicado dessa doença e nas últimas semanas pedindo a volta do público nos estádios. Conseguiu inclusive que tivesse jogo com público, que foi contrariado e rebatido pelos demais clubes da série A.
Será que já podemos ter público nos estádios?
Entendo que o público é um componente fundamental para o futebol, assim como para teatros, cinemas, shows. Ou seja, o público é fundamental para o entretenimento em geral. Mas a pergunta é, será que estamos preparados para receber esse público agora? Ou, será que o público está preparado para fazer parte desses eventos nessa nova realidade?
O Flamengo hoje conta com 17 infectados pelo novo coronavírus entre eles atletas, comissão técnica e dirigentes. Mesmo seguindo todos os protocolos e cuidados OBRIGATÓRIOS, teve todas essas pessoas infectadas. Embora a maioria seja atletas e possivelmente tenham sintomas leves, dirigentes e comissão técnica , além de parentes de todas essas pessoas, podem estar no grupo de risco ou mesmo terem imunidade baixa e assim terem maiores complicações devido a doença.
Fato é, o Flamengo estava no Equador e jogou dois jogos por lá, durante esse período teve praticamente metade do time titular infectado, e foi obrigado a jogar o segundo jogo com muitos desfalques correndo o risco de ter o jogo adiado. No domingo tem os mesmos desfalques e alguns mais contra um adversário direto na briga pelo campeonato brasileiro. E embora tenha concordado no início do campeonato que haja o que houvesse teria que fazer de tudo para colocar 11 jogadores em campo, podendo até ter um mínimo de 7, correndo o risco de perder por w.o. caso não conseguisse. Está pedindo o adiamento da partida e promovendo debates quanto a necessidade de realização da partida e o risco para os atletas e pessoas.
Mas não era pra voltar a ter público nos estádios?
O clube que desde o começo liderou a volta do futebol, volta do público, está agora sendo duramente penalizado pelo que tem defendido esse tempo todo.
Seria então castigo? Castigo para quem?
É justo que o jogo aconteça, prejudicando o clube que vem defendendo a volta do futebol e da torcida, tendo somente metade do time em condições de jogo e incluindo jogadores da base para compor o elenco?
Ou é justo que adie o jogo, usando o bom senso, para que diminua o risco para os outros jogadores, comissões técnicas, dirigentes e pessoas envolvidas no jogo e assim atrapalhar o time que foi coerente com os demais? Talvez favorecendo o Flamengo, pois teria seus jogadores recuperados para a partida adiada.
Mas e os clubes que já foram prejudicados e não tiveram seus jogos adiados, é justo com eles?
Difícil dizer quem está certo ou errado, mas tudo isso precisa ser revisto. Futebol não está acima de tudo, nem o protocolo é perfeito. Mas é preciso que tenha bom senso de ambas as partes.